
Tem Dias
Tem dias que mal tenho forças para escovar meus dentes.
Tem dias demasiados cinzentos. Na verdade, em dias como esse mal consigo me olhar no espelho, não sei se pela falta de luz ou por me faltar vida.
O tempo aparenta passar de uma forma absurdamente lenta, não tenho vontade de sorrir.
Não tenho forças para apressar esses instantes. Há momentos que me perco. É como se apenas estivesse flutuando no espaço. Flutuando em direção ao infinito, convencendo-me de que em algum momento encontrarei as respostas.
Sinto-me extremamente ridículo em dias como esse. A verdade é que nem percebi o momento exato em que essa tristeza invadiu meu corpo. Perdi total controle de quem sou e quem imaginava ser.
Agora estou aqui com um copo de vinho barato, sentado no chão da sala, apenas encarando o vazio.
O chão é tão frio e solitário.

Que piada!
Sempre fui assim?
Todos aqueles dias de meditação, todos os mantras, todos aqueles óleos essenciais…
Para quê? É para isso? Foi por isso?
Jogado e largado. Inútil. Um verme. Moribundo. Não consigo sequer pronunciar uma frase coerente. Perdido em toda minha melancolia e trágica vida.
É assim por todos os dias, e por mais quantos longos anos? Há alguma redenção? Posso ultrapassar? Cadê a tal luz? Onde? Para qual caminho devo ir?
Recordo que o som que mais amava eram as canções dos pássaros, hoje essa melodia é triste e gélida.
Deve ser para condizer com meu atual momento.
Sei quem nem sempre foi assim, tenho certeza.
Antes essa casa irradiava sorrisos, perfumes e licores.
Foi a vida ou fui eu mesmo quem os afastou?
A sala parece muito maior, muito mesmo.
Como fiquei tão minúsculo? Tornei-me insignificante? Quando foi que tanta coisa na minha vida perdeu o sentido? Onde estava nesse momento? Não participei ativamente dessas escolhas?
Tem dias.

